domingo, 7 de agosto de 2011

Capítulo I - Parte III

     Escondida atrás de um muro da cidade da Fronteira, Jenny observava uma garota atravessar a rua na sua direção, a menina tinha mais ou menos as suas medidas e cabelos longos e negros ondulados, mesmo sabendo que tinha despistado os carrascos – uma especie de mutante que literalmente faz com que você perca todos os seus movimentos com apenas um toque – e os farejadores – outra especie de mutante que podem encontrar a pessoa “perdida” a partir do olfato - ela continuava com maus pressentimentos.

     Quando a menina chegou perto o suficiente do beco, Jenny a puxou pelo braço.

     - AI! O que você está fazendo – Assim que a garota, de nome Carla, viu as roupas com que Jenny estava vestida, ela ameaçou gritar mas os olhos da mutante já tinham capturado os dela.

     A cabeça de Z2 latejava, ela não esperava que iriam existir tantas vozes na sua cabeça quando ela finalmente chegasse a um bairro nobre, porém pouco populoso, como aquele, talvez isso se deva pelo fato de que ela nunca tenha convivido com tantas pessoas antes.

     Carla começou a se despir por ordem de Jenny que fazia o mesmo, não era uma ideia brilhante mais era a única em que a mutante tinha conseguido pensar em meio a tantas vozes. Z2 recolheu as roupas da garota e vestiu-as, forçando Carla a vestir as do Domínio.

     Jenny achou no bolso da calça surrada de Carla um estilete e antes de poder mudar de ideia começou a cortar o cabelo. As madeixas castanhas caiam no chão sujo do beco escuro e uma dor atravessou o peito dela. Vendo o cabelo, que era a única coisa que tinha sobrado de uma vida que ela não se lembrava e que na verdade ela nem sabia se tinha realmente vivido, cair morto.

     Z2 passou as mãos no que tinha restado do seu cabelo que agora estava desalinhado e com um lado maior que o outro, apesar da aparência rebelde aquilo combinava perfeitamente com as calças surradas e a blusa folgada que eram da garota.

     Ela olhou para Carla que estava nervosa e sem saber o que fazer. Exatamente do jeito que uma fugitiva deveria parecer. Antes de ir embora Jenny instruiu Carla a correr e a se esconder e então finalmente saiu para a verdadeira civilização.

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     Sentada no balanço de um parquinho de uma cidade pequena da fronteira, Jenny sabia que não podia se demorar, mas ela não fazia ideia do que fazer. Ela sabia que tinha que voltar ao Domínio para, de algum jeito, pegar Sarah.

     Até aquele momento Jenny tinha se proibido de pensar em Sarah, mas agora era inevitável tentar esquece-la ou fingir que ela nunca existiu. De algum jeito ela não podia deixar a única amiga que teve em toda a sua vida sozinha e sofrendo o que ela sofreu por anos.

     Com os dedos dos pés enterrados na areia, a cabeça de Jenny continuava a latejar, mesmo estando em uma cidade com poucos habitantes as vozes ainda eram muitas. Ela não fazia a minima ideia do que fazer para pegar Sarah.

     Apesar de não querer admitir isso, Jenny sabia que não tinha poder suficiente contra o Domínio, ela era apenas uma vidente e só tinha começado a ler mentes e a controla-las a pouco tempo por causa do próprio Domínio, enquanto eles possuíam os maiores e melhores mutantes do que tinha restado do Brasil.

     Ela não gostava de pensar sobre a guerra de 2100 porque é a partir desse momento que as suas memorias começam e elas não são nada boas.

     O começo de tudo, pelo menos para ela, foi com a perda de uma pessoa muito importante. Quem? Nem isso ela conseguia lembrar, mas mesmo assim ela lamentava a perda do que talvez nunca tenha tido. Tudo lhe foi tirado e as únicas coisas que lhe restaram foram a dor e a solidão. Seu começo começa como o fim de muita pessoas, cheio de sangue e perda. Jenny passou anos intermináveis presa como um animal, saindo apenas quando ela era necessária em alguma missão, mas mesmo quando isso acontecia ela era acorrentada e usava um tipo de coleira de metal controladora, como se fosse um cachorro.

     Um calor seguido de algum tipo de corrente elétrica passou pelo seu corpo. Jenny sabia exatamente o que isso significava... e não gostava nada disso.

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